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Cultura indígena Huni Kuin do interior do AC vira tema de game; veja prévia

Produção do jogo teve participação de aproximadamente 30 indígenas. Idealizador do projeto diz que game deve ficar disponível no início de 2016.

Caio Fulgêncio, do G1 AC

O povo Huni Kuin (Kaxinawá), próximo ao município do Jordão, distante 462 km da capital Rio Branco, é a inspiração do jogo de videogame “Huni Kuin: Os Caminhos da Jiboia”, com lançamento previsto para o início do próximo ano. Segundo o antropólogo e idealizador do projeto, Guilherme Meneses, de São Paulo, aproximadamente 30 indígenas participaram do trabalho juntamente com uma equipe formada por profissionais de várias áreas.

Meneses conta que desde à concepção, o trabalho teve o intuito de exaltar a cultura do povo, mesmo sem saber ainda a comunidade exata com a qual a equipe iria trabalhar. Contudo, foi com os indígenas da região do Jordão que foi possível encontrar os traços culturais mais fortes, sobretudo no que diz respeito à pratica de rituais e conservação da língua própria.

Foram seis meses de pesquisa e dois anos e meio de desenvolvimento propriamente dito, conta o antropólogo. Ainda faltam em torno de seis meses para a conclusão do projeto. A equipe – que inclui programador, artista, game designer e outros antropólogos – passou ao todo três meses na aldeia São Joaquim/Centro de Memórias, com realização de oficinas de audiovisual, produção de conteúdo e instalação de energia solar.

“A ideia surgiu inicialmente a partir de minhas leituras de etnografias kaxinawá. Além dos livros, os conhecemos por meio dos rituais de nixi pae (ayahuasca) no sudeste do país. Desde o começo, o game foi concebido a fim de tratar da cultura e espiritualidade do povo. Dentro das oficinas nas aldeias a vertente em relação ao roteiro do jogo acabou recaindo sobre os contos (mitos) tradicionais (Shenipabu Miyui)”, diz.

Em seu roteiro, o game mostra um casal de gêmeos huni kuin, concebidos pela jiboia Yube, que precisam passar por vários desafios para se tornarem pajé e mestra dos desenhos – os chamados kenes. Para isso, eles vão conquistando habilidades e conhecimentos de ancestrais, plantas, animais e espíritos da floresta. Ao todo, são cinco histórias dentro do jogo, bases para as fases e narrativa. Os indígenas participaram de todas elas, segundo Meneses.

“Os pajés e mestras contaram essas longas histórias nas duas línguas – português e hãtxa kui -, as quais gravamos em vídeo. Com esses mitos, os jovens fizeram os desenhos que aparecem em cenas e serviram de inspiração para os ‘assets’. Além disso, gravamos o áudio dos cantos e efeitos sonoros da floresta. Também capturamos aspectos da cultura. Os indígenas também estão sendo responsáveis pela tradução para hãtxa kui”, detalha.

De acordo com o antropólogo, com o jogo totalmente finalizando, o lançamento e distribuição devem ocorrer primeiro nas comunidades indígenas. O game ficará disponível em formato online gratuitamente. “Temos interesse em portar para celular, mas não está previsto nos custos e no cronograma original”, acrescenta.

Para Oswaldo Kaxinawá, um dos coordenadores gerais do trabalho dentro da aldeia, o game vai ajudar a divulgar a cultura Huni Kuin. Ele faz questão de frisar a participação indígena na produção. “Para nós, esse projeto foi muito importante. Reunimos toda a liderança para as oficinas. É jogo nosso, que nós fizemos também. É importante as pessoas conhecerem nossas histórias”, finaliza.